A estampa dos cem florins recolhe um dos temas mais cultivados por Rembrandt. A figura de Cristo torna-se o ponto de partida em muitas de suas telas e gravuras. Conhecida jß no sΘculo XVII, sua denominaτπo Θ fruto do leilπo, em 1649, em que ela foi apresentada. O artista exigia, ao parecer, cem florins por sua obra. A quantidade demandada era o preτo habitual que costumava alcanτar um bom retrato. Neste caso, Jesus aparece predicando e curando doentes. Enquanto isso, no lado esquerdo da representaτπo, os fariseus conversam. Para Jacob Resemberg, grande estudioso do mestre, estes personagens aludem α passagem em que pedem a Jesus que dΩ sua opiniπo sobre o div≤rcio. No espaτo central, Pedro parece deter uma mulher com seu filho. Esta se situa ante o filho de Deus, que a convida a aproximar-se. Meninos e desvalidos tornam-se figurantes de uma cena cheia de emoτπo e religiosidade. A fonte iconogrßfica empregada Θ o EvangΘlio de Sπo Mateus. O autor fusionou com grande soltura dois epis≤dios diferentes da vida de Jesus.
AN┴LISE T╔CNICA E ESTIL═STICA
A composiτπo desta ßgua-forte se caracteriza por uma horizontalidade muito acentuada. Um sem fim de personagens se disp⌡em ao redor de Cristo. Este se torna o eixo fundamental da representaτπo. O autor o situa no centro da estampa. Sua figura, de maior envergadura que as demais, estß levemente elevada em relaτπo ao resto. Seus braτos estendidos apontando na direτπo oposta conferem dinamismo α representaτπo, sem romper o ar certo de serenidade que inunda toda a obra.
A estampa constitui uma galeria de express⌡es e atitudes diferentes. Assim como Leonardo, Rembrandt se preocupa extraordinariamente pela captaτπo dos estados de alma atravΘs dos gestos.
O contraste entre luzes e sombras se tornam uma ferramenta essencial. O espaτo da gravura estß definida por uma diagonal em dois Γmbitos diferentes. No mais iluminado, os personagens estπo sugeridos de modo quase esquemßtico. A parte em penumbra oferece um tratamento mais elaborado de rostos e vestes. Os detalhes estπo conseguidos mediante um tratamento claro-escuro cheio de matizes.
INTERPRETA╟├O
Esta ßgua-forte constitui uma boa mostra do momento artφstico em que comeτa a fraguar-se a maturidade estilφstica de Rembrandt. A crφtica considerou esta obra religiosa a mais representativa daqueles anos. Dela emana uma serena espiritualidade. A vida de Cristo e a figura humana sπo duas constantes essenciais na trajet≤ria do holandΩs. Ambas sπo tratadas com especial cuidado neste trabalho. O autor integrou com grande habilidade e coerΩncia dois epis≤dios diferentes do EvangΘlio, que lhe servem de pretexto para a realizaτπo de um amplo repert≤rio de atitudes humanas. O estudo do homem se torna uma obsessπo estΘtica que se constata nos estudos e esboτos hoje conservados.
A horizontalidade da representaτπo contribui para dar uma sensaτπo de equilφbrio α composiτπo, que mostra tambΘm um sentido narrativo dißfano. O claro-escuro torna-se um recurso formal de vital transcendΩncia, criando uma cena cheia de intimismo e religiosidade. Com o passar do tempo, sua tΘcnica de ßgua-forte tenderß a uma progressiva sφntese. Perderß detalhes, a favor do efeito sugerido mediante o forte contraste de luzes e sombras.
